Viver é reinventar-se

terça-feira, 19 de maio de 2009

Que venha o novo

Não quero adivinhar o mundo.
Antes, e mais que tudo, quero sair a fazer novas trilhas, criar novos caminhos, deixar que a vida se revele diante de mim.
Que perante meus olhos cada amanhecer seja não apenas uma promessa de dias melhores, mas a confiança plena de que cada aurora traz em si uma nova oportunidade.
Sem regras. Sem modelos. Sem pré-conceitos.
Uma nova filosofia de vida. Viver um dia de cada vez. Simples como deve ser.
Nada de antever situações, possibilidades. Tudo a seu tempo, tudo da forma que tiver de ser.
Nada de querer o certo, o exato. Nada de querer garantias. Garantias não são reais. São a ilusão de que as coisas estão sob nosso controle. Quase nada está.
Quero que a vida simplesmente siga seu curso e leve consigo o que tiver de levar, como um rio a arrastar em sua correnteza, folhas, galhos e outras coisas mais.
Quero que a vida me surpreenda, com todo o encanto de que for capaz e com toda alegria que eu merecer.
Quero que ela me brinde em versos com as canções que ainda hei de ouvir.
Quero que a vida, em todo o seu mistério e em toda a sua plenitude, assuma em suas inusitadas faces as mais belas que eu nem tento vislumbrar.
Porque mais que tudo, desejo o presente.
Desejo ser e estar, aqui e agora, onde quer que eu vá.
Desejo o encantamento das horas que passam, o dia-a-dia a luzir por entre meus olhos.
Desejo ser quem sou e estar onde estou – em tudo!
Porque tudo sempre é como é, e as coisas sempre estão onde devem estar.
Que o passar das horas e dos dias não me traga ansiedade ou euforia, apenas a certeza de que cada momento existe simplesmente para ser o que é.
E que eu viva o hoje, o agora, o momento que se apresenta. Apenas esse me cabe.
Nada de expectativas, nem planos.
Tão imprecisa é a vida. Tão imprevisíveis as horas.
Nesse mar desconhecido, mergulho e me encontro.
O amanhã não me pertence.
Nada sei sobre o que há de vir.
Ainda assim todos os dias serão meus.
Porque tenho um mundo novo diante de mim.

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domingo, 23 de novembro de 2008

A incompreensível leveza do ser

Sinto muito.
Não sou leve.
A matéria de que é feita minha alma é densa.
Há um peso de experiências e reflexões que a impedem de ser assim, leve.
Há choro contido, há dores vividas; há o peso dos enganos e do desamor.
Mas nela também há sorrisos, calor de amor; há ainda um certo encanto pela vida e pelas doces lembranças que a embalam.
Nessa complexa mistura de emoções, há também espaços vazios. Como não?
E talvez por isso, embora tão densa, minha alma ainda consiga, acima do bem e do mal, ter a leveza e a ousadia de sonhar.

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Que tal ser feliz?

Cultivar a doce paz que um dia, tão pequenos, nem sabíamos reconhecer ao respirarmos na “barriguinha”. Você lembra? Claro que não. Observe um bebê e o doce compasso de sua respiração abdominal. Você não lembra, mas com certeza, um dia, viver pra você era simplesmente respirar. Não havia pressa. Nem algo urgente a resolver. Nem metas. Não havia nada. Nem sequer havia a pretensão de existir. Apenas o existir. Sabe se lá como a vida foi ficando tão cheia de obrigações e coisas a alcançar. Já pensou em ser feliz? Milhões de vezes não é? O que está faltando? Ah, claro. Somos aqueles que temos que alcançar a felicidade e por isso só seremos felizes “quando”...ou então “se”...
Opa, espere. Quem foi que inventou isso? Foi você? Certamente você dirá que não. Tampouco fui eu. Será mesmo? Criou-se um ideal de felicidade que estamos tentados a alcançar, não hoje, pois algo tão precioso tal como a felicidade, certamente não vem embrulhada para presente do dia para a noite. Esqueceu que ouvimos desde a infância que tínhamos que lutar pela felicidade? Nossa. Uma luta sem tréguas. E só então, depois dessa grande luta, é que estaremos prontos para merecê-la. Você também acreditou nisso? Pois é. O mundo está reforçando essa teoria o tempo todo pra quem quiser ouvir. E a gente ouve. E acaba ficando surdo para os próprios sentimentos, para a realidade interior rica e bela, que quem sabe nos revelaria uma felicidade possível, real. Não uma felicidade completa nem idealizada, mas a felicidade simples que qualquer ser humano deseja, embora não saiba exatamente o que é, a não ser por breves momentos.
O ideal de felicidade apregoado nesse teatro da vida envolve diversos cenários. A criança sonha que será feliz quando for adulto e tiver sua independência. Jovens sonham que quando encontrarem alguém que os amem para toda a vida serão felizes. Outros sonham que quando tiverem casa e carro na garagem, aí sim, serão felizes. Outros dizem que serão felizes quando não tiverem mais que trabalhar e puderem gozar de tempo e tranqüilidade.
Além das questões materiais, existe uma prisão ainda mais severa: a do “ser”. É algo inconsciente e perverso, que assombra a mente de muitas pessoas, ao menos daquelas que dão significado maior à existência. É a idéia de que pra ser feliz é preciso merecer. Ser bom de verdade. Ter uma alma nobre. Ter uma série de qualidades morais elevadas é algo que se busca atingir, mas é extremamente difícil – e isso sim é uma verdadeira luta.
Para atingir uma felicidade relativa neste mundo em que vivemos temos que buscar a perfeição relativa. As situações da vida, no entanto, apresentam-se dialeticamente como propícias para que o ser humano desenvolva tais qualidades ou as ignore. Difícil, não? Ora, se é tão difícil, o caminho da descrença e do materialismo são os mais atraentes. Nele não há culpa. “Eu faço o que eu quiser”, “Não quero ser perfeito”. São esterilizantes para o progresso do indivíduo, no entanto lhes dão uma incrível liberdade de agir. Podem atravessar a estrada da vida como um trator, atropelando qualquer coisa de substrato mais emocional. Pessoas assim não conhecem culpa, remorso e vivem numa aparente calmaria. Vai saber não é?
De outro modo, porém, para aqueles que acreditam que a felicidade só será merecida mediante um esforço sobre-humano, a coisa se complica de fato. São pessoas geralmente “melhores” do que a grande maioria, no que diz respeito às suas atitudes diante das pessoas e do mundo. Pautam suas ações e suas palavras por crenças superiores. Mas como as características intrínsecas do ser humano jamais podem ser totalmente negadas, vivem em eterno conflito e lutam interiormente contra os monstrinhos daquilo que sabem errado. Alguém poderá dizer que certo e errado são conceitos relativos. Uma boa retórica com certeza convence uma mente sem culpas. No entanto, qualquer pessoa que tenha um mínimo conhecimento de coisas que vão além do que se vê, sabe que certo e errado podem até ser relativizados de acordo com o contexto, mas jamais podem ser abstratos. Certo e errado são conceitos reais.
Diante de tudo isso, qual o caminho para a felicidade?
Juro que não sei, pois se soubesse, escreveria um livro e ficaria rica. Mas afirmo que essa pergunta não cala dentro de mim. E creio que não sou a única. Todo mundo deseja ser feliz. E não é uma tarefa fácil. Infelizmente sou obrigada a admitir que dá trabalho.
Com certeza você se sentiu feliz quando abandonou a vida infantil e pôde assumir a responsabilidade por suas escolhas. Certamente ficou muito feliz quando encontrou um grande amor. Certamente você ficou muito feliz com a compra da sua casa, do seu carro. Certamente ficou feliz quando junto com a aposentadoria veio a promessa de uma vida tranqüila que enfim você iria aproveitar. Porém, você também sentiu medos, angústias, decepções quando saiu do casulo da infância para adentrar o complexo mundo adulto. Aquele grande amor podia até ser grande, mas não foi eterno. Ou dura até hoje, mas há discussões, momentos difíceis e vontade de jogar tudo para o alto de vez em quando. Ter sua casa é algo maravilhoso, mas às vezes você reclama do espaço, da localização, ou de qualquer outra coisa que lhe faça esquecer o quanto você a desejou. O carro que você sempre quis, e que te dá conforto e liberdade, obriga você a enfrentar um trânsito louco todos os dias.
O lugar em que quero chegar com todas essa digressões é que é muito importante respeitar seus limites e valorizar suas conquistas. Sempre haverá novos degraus a subir em termos de conquistas materiais. Isso é saudável e produtivo. Faz as pessoas avançarem cada vez mais. No entanto, se não parar um pouco em cada degrau para apreciar o que conquistou, tudo terá sido em vão. Curtir a conquista é fundamental. E pode ter certeza, é o que dá um gosto especial a cada vitória.
Mas não é só isso. Você pode olhar para sua vida e admitir que já caminhou um bocado, que evoluiu alguma coisa, que aprendeu como ser humano e que se esforça, verdadeiramente, para ser alguém melhor todos os dias. Ah, mas isso não basta. Quando assombrado por qualquer monstrinho humano (sim, você é humano!) de raiva, mágoa, vaidade, egoísmo ou qualquer outro, você se sente um profundo fracasso. Afinal, como você pode ter pensamentos e comportamentos dessa natureza? Se continuar assim, não vai conquistar a tão sonhada felicidade, pois não a merece. Isso tudo é um desgaste muito grande. Como uma pessoa pode ter paz se a felicidade se coloca à sua frente como uma miragem? Você se sente próximo, sente que pode alcançá-la, mas não chega lá. Não é nada reconfortante, nem motivador, não é mesmo?
Ser uma pessoa melhor a cada dia deve ser perseguido por todo ser humano. No entanto se você achar que não é digno de ser feliz nesse momento porque possui defeitos como todo mundo, nunca experimentará uma paz verdadeira e, portanto, a felicidade. Não é possível ser feliz em meio a autocobranças ostensivas e ideais distantes. Mas é possível ter momentos felizes quando nos permitimos vivenciar um dia de cada vez e nos aceitamos como somos. Por favor, nada de “eu sou assim e pronto”. Só o amadurecimento pode trazer qualquer coisa de real na sua vida. É necessário sim nos lapidarmos. É necessário sim estarmos cientes de nossos defeitos, mas é necessário também estarmos cientes de nossas virtudes. A consciência daquilo que precisamos melhorar é a matéria-prima com a qual trabalharemos dia-a-dia. A consciência de nossas virtudes é o que vai nos permitir experimentar a beleza da vida e doses de felicidade. Com bom senso, humildade e sabedoria, creio que o caminho se torna menos difícil. Alguém disse que era fácil?

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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Cada um no seu quadrado

“Cada um no seu quadrado...cada um no seu quadrado... “
Em tempos de frutas que se transformam em bundas ou bundas que se transformam em frutas, devorando a mídia e os gulosos olhares masculinos, certos ritmos de música já não inspiram muito respeito. O fato é que “Cada um no seu quadrado”, hit aparentemente tosco, pode carregar em si algo de muito verdadeiro. Abstraia a tal dança. Tente ver algo mais por trás do óbvio. Saia do lugar comum e concentre-se no fato de que esta simples filosofia poderia ser aplicada na vida das pessoas, de cada um de nós. Não no sentido egoísta, de não se importar com o próximo, mas sim no sentido de respeito. Isso, respeito pelo quadrado alheio. Cada um no seu quadrado. Olha que interessante! Ninguém se metendo na vida de ninguém. Não haveria intrigas, fofocas, julgamentos, guerras, dissensões. Haveria, no mínimo, mais paz nesse mundo louco, onde a briga pela razão é inúmeras vezes a fonte de tantos males. Cada um no seu quadrado, respeito pelo quadrado alheio e pronto! Quem sabe poderia surgir um mundo menos torto, com menos pessoas andando em círculos e quiçá mais felizes.

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Valeu, gente!

Queria agradecer os comentários carinhosos de todos vocês.
Continuem me acompanhando, ficarei muito feliz.
Ótima semana a todos e que Deus continue nos abençoando.
Bjos a todos

sábado, 11 de outubro de 2008

Que bom

Que bela seria a vida sem em vez de barreiras construíssemos pontes e escadas
Se em vez de fazer soar alarmes para nos proteger das vãs comédias dramáticas que a vida nos apresenta, fizéssemos de cada momento presente um simples ato de viver e se deixar viver.
Que bom seria se em vez de pensamentos e projeções, fizéssemos de cada ato nosso a realização de um simples desejo ou da mais pura vontade.
Que bom seria se em vez de nos impor tantos limites nos deixássemos fluir com a vida.
Que bom seria se a vida se fizesse menos urgente, sem tanto pesar de conseqüências, sem tantas ponderações.
Que bom seria se simplesmente nos deixássemos ser, e nos importasse apenas existir e viver o agora, o hoje, o florescer de cada dia.
Que bom seria se a despeito de qualquer possibilidade de falha ou erro, simplesmente saíssemos pra vida, prontos para o que desse e viesse, sem medo ou pesar.
Que simplesmente pudéssemos existir hoje para o momento presente e viver a plena certeza de que basta sermos quem somos para sermos felizes.
Que bom seria se nos importasse apenas a ligeira e terna felicidade de uma loucura abstrata ou de um ato impensado que nos desse um dia de felicidade.
Que bom se nossas dúvidas e promessas não nos deixassem um legado de frustrações e arrependimentos.
Que bom seria se saíssemos da apatia que impede nossas iniciativas e acaba por ceifar os nossos mais recônditos sonhos.
Que bom seria se opiniões ou pensamentos divergentes não fosse para nós mais do que modos diferentes de ver a vida e em nada nos desviasse de nossos anseios.
Que bom seria se nenhum motivo fosse suficiente para nos fazer desistir de nós mesmos.Que bom seria se entendêssemos que tudo – absolutamente tudo – pode trazer um bem em si quando simplesmente aceitamos a vida como ela é.

O que é a vitória?

Nem pódiuns, nem aplausos, nem medalhas, nem um sonoro grito com seu nome ao estilo “Brasil –sil-sil-sil-sil-sil....”.
Na vida, ao contrário das olimpíadas, a vitória não é coroada de tão emblemáticos sinais. Às vezes, é uma alegria tão íntima, uma vitória que só você sabe o valor que tem. Em outras, pode mesmo ser algo grandioso aos olhos dos outros, e mesmo assim, lá no fundo, só você sabe o quanto batalhou para chegar ali.
Em tantas outras, em vez de aplausos, ou mesmo por trás deles, há algo de tão contrário que só de pensar entristece. Ora, mas pra que entristecer, se a verdadeira vitória é algo que faz bem ao coração? Está para o que há de verdadeiro dentro de nós, tanto quanto as bênçãos estão para nossas ações.
Mas dentre tantas vitórias possíveis, não há de maior valor do que aquela sobre si mesmo. E quanto a essa, caros amigos, não há com o que se iludir. Aos olhos comuns, pode parecer até loucura ou ingenuidade. Pode resultar até mesmo em injustiça, em maledicência, em incompreensão. No entanto, diante da divindade que tudo conhece e que tudo governa, é a única que de fato importa. E isso encerra qualquer argumento em contrário.
Tantas divagações resultaram de minha inédita apreciação de alguns momentos da ginástica olímpica. A apreensão das meninas me comoveu na prova que acompanhei. Imaginei o quanto meses de preparo podem dissipar-se em alguns minutos, gerando imensa decepção. E refleti então sobre o quanto errar é humano e quantas vezes somos nossos piores carrascos ao não aceitarmos nossos equívocos. Nada mais humano e ao mesmo tempo, tão paradoxalmente heróico do que se dispor a, ao menos, tentar, correndo todo e qualquer risco de falhar. Mergulhei em circunstâncias vividas e vi quantas vitórias alcançadas quando simplesmente encarei e fui em frente. Vi também quantas derrotas, que apesar de dolorosas, deixaram indeléveis lições, e tantas outras, que por piores que tenham sido, foram minha fortaleza para vitórias futuras.
Foi assim que, naquela manhã de sábado, as lágrimas daquelas jovens meninas, cheias de garra e esperança, me contagiaram e lavaram também minha alma, ao ensinar-me em breves momentos uma lição tão preciosa. Que a simples possibilidade de vitória é a mínima razão para crer em si e seguir em frente. E que há riscos. E perder é apenas uma possibilidade. No entanto, vencer...ah, vencer faz valer todos os riscos. Não sei em que terminou a competição, confesso que não acompanho. Mas se na vida não há pódios de chegada e outros alardes, afirmo sem titubear que dentro de cada um de nós e no caminho de cada um de nós está todo o potencial da vitória.


Texto escrito num sábado de Agosto de 2008.